29/11/2011

Opinião...1



O carácter essencial do Naturismo no seio da sociedade e do seu futuro

Muito se tem falado e escrito no Movimento Naturista Internacional sobre o acesso aos espaços naturistas associativos e/ou comerciais por parte de pessoas individuais atendendo à manutenção da característica familiar do movimento  e da preservação e ampliação da sua credibilidade junto da opinião pública.

Esta matéria tem sido alvo de alguma polémica e tem constituído em várias revistas da especialidade um pólo privilegiado de discussão.

Pessoalmente entendo que o naturismo tem e deverá manter na sua essência uma base familiar. O sentido naturista e a sua forma de estar começa necessariamente no seio da família, primordial e primeiro núcleo colectivo da nossa vivência em sociedade, parecendo desprovido de sentido viver “textilizado” na sua casa e assumir apenas a nudez na praia.

Esta questão tem motivado reflecções diversas e diferentes abordagens, preocupando as entidades responsáveis pelo movimento naturista associativo na Europa que vem limitando o acesso de pessoas individuais sobretudo nos espaços naturistas mais alargados e com carácter de lazer, tendo em vista a preservação desses espaços da possível intromissão de exibicionistas, voyeurosexistas e até pedófilos.

Este controlo deve ser entendido positivamente para segurança dos utilizadores e estabilidade desses espaços.

Naturalmente que haverá sempre lugar para pessoas individuais livres de compromissos familiares ou não.

Os clubes – pela sua dimensão, pela (em princípio) proximidade residencial dos membros que os integram – poderão constituir um “filtro” à passagem de cartas naturistas a pessoas cujos hábitos e carácter possam colidir com os princípios que norteiam o movimento.

A Europa atravessa um conturbado período traumatizante pelos casos de pedofilia vindos a público, numa sociedade cada vez mais varrida de valores humanos, mantendo e multiplicando até, toda uma panóplia de exploração da imagem do nu corporal para todos os fins menos o da sua dignificação e perpetuando, por outro lado, uma cultura redutora e castradora do corpo humano. Estas são duas faces aparentemente contraditórias de uma mesma moeda.

O Movimento Naturista, pela sua filosofia, pelo seu carácter, pela sua prática, pode e deve ser um bastião de um novo humanismo, juntando aos seus valores inerentes e tradicionais o sentido da preservação global da Natureza, assumida também na dignidade do Homem e da Mulher nus, tal como foram criados, e da sua sã sexualidade.

Só assim, em meu entender, se eliminarão os desequilíbrios internos no Homem, reconduzindo-o também no plano externo à sua reconciliação com a Natureza, única forma de lhe proporcionar o bem-estar, um desenvolvimento sustentado e a qualidade de vida que lhe permita viver com felicidade e harmonia.

Esse caminho, essa educação, começa em cada um de nós e social e colectivamente, no núcleo fundamental que é a família. “Casa de pais – escola de filhos”, é um velho ditado polular que também entre naturistas faz especial sentido.

Manter e alargar o carácter familiar do naturismo é, por isso, mais do que um objectivo, é um imperativo para todos os naturistas empenhados.


Originalmente publicado no “O Natural” Nº 3 no Outono de 1999


Com esta publicação dá-mos inicio à publicação no blog de alguns artigos de opinião publicados ao longo dos anos pelo Clube Naturista do Centro, na sua publicação "O Natural".

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