Corria o ano de 1979. O naturismo/nudismo aparecia tímida e ocasionalmente na imprensa e nós nunca nos tínhamos apercebido da existência da FPN fundada em 1977, a partir de utentes do Meco, praia que só passámos a frequentar a partir de 1980.
Foi, aliás, longe dela, a mais mediática praia naturista, que iniciámos a nossa prática do Naturismo.
Havíamos casado há poucos dias. Depois de uma muito breve passagem pelo muito cosmopolita Algarve, decidimos rumar à procura de um “paraíso”.
Pegámos na nossa pequena canadiana, metemos tudo o que era essencial na velha Diane e rumámos ao norte à procura do Parque Natural da Peneda-Gerês.
Ainda longe das romarias de verão a que agora assiste, a zona do parque próxima da fronteira da Portela do Homem, era um autêntico paraíso isolado do mundo, da poluição, do ruído e do frenesim que lhe quebra, agora, todo o encanto nas tardes quentes de Verão.
Apenas existia um local de acampamento, hoje felizmente extinto, dada a sua localização no coração da reserva natural, que proporcionava aos seus poucos utilizadores um apoio com as condições mínimas, mas deliciosamente naturais: o banho fazia-se no rio, nas piscinas naturais; logo a seguir o rio Homem bifurcava, dando lugar a dois braços nos quais de um lado se lavava a roupa e noutro a loiça, havendo uma ponte em madeira a unir as duas margens. O frigorífico era colectivo – uma gruta nuns rochedos fazia refrescar e conservar o que lá deixávamos sem receio dos “amigos do alheio”. O respeito mútuo era uma pedra basilar e, também, o respeito pela Natureza, que um guarda florestal, autêntico eremita que vivia numa casa de pedra a algumas dezenas de metros, não precisava de fazer respeitar.
O rio de águas completamente transparentes, formava aqui e ali, piscinas naturais e várias cascatas que faziam a delícia dos corpos que nelas se banhavam.
Era fácil encontrar um lugar mais recatado. Subindo o rio, mesmo pelo meio do leito, aproveitando os massiços de pedra granítica que sobressaíam das águas, pudémos constatar que alguns dos nossos companheiros de “paraíso” se despiam para melhor aproveitarem a exuberância da Natureza.
Influenciados pela sua postura, que, aliás, em casa já usávamos, não hesitámos na nossa integração plena com uma Natureza esmagadora.
A sensação de arrebatamento e libertação foi imediata. Rejubilámos de prazer na relação integral e sensual que estabelecemos com o meio que nos envolveu e acariciou.
A partir desse momento, nada ficaria igual. A sensação de renascimento, de reencontro foi tão marcante que nunca mais nos perdemos dum caminho que ano após ano seguimos com prazer. Nesse caminho vivemos momentos gratificantes e construímos o nosso futuro. Com o Naturismo vivemos na nossa casa, nele criámos os nossos filhos que, ainda hoje, partilham connosco, apesar dos seus 18 e 13 anos respectivamente, sem hesitações ou dúvidas como temos ouvido alguns pais lamentar.
Tínhamos, quando começámos, 22 e 18 anos. Mantemos viva essa memória e vivemos sempre, desde então, com a felicidade de podermos partilhar com liberdade o nosso corpo por inteiro, sem partes proibidas, sem “pecado”, sem obcessões. Só a felicidade e o bem estar nos invadem sempre que podemos estar à vontade. Passados estes anos todos, estamos cada vez mais seguros de nós e da opção que fizémos. Valeu a pena e continuará a valer, viver momentos de maior recato com a natureza e momentos de são convívio com tantos e tantos amigos que conhecemos no Naturismo.
Autenticamente. Integralmente. Naturalmente Nus.
Originalmente publicado no "O Natural" Nº 19
Foi, aliás, longe dela, a mais mediática praia naturista, que iniciámos a nossa prática do Naturismo.
Havíamos casado há poucos dias. Depois de uma muito breve passagem pelo muito cosmopolita Algarve, decidimos rumar à procura de um “paraíso”.
Pegámos na nossa pequena canadiana, metemos tudo o que era essencial na velha Diane e rumámos ao norte à procura do Parque Natural da Peneda-Gerês.
Ainda longe das romarias de verão a que agora assiste, a zona do parque próxima da fronteira da Portela do Homem, era um autêntico paraíso isolado do mundo, da poluição, do ruído e do frenesim que lhe quebra, agora, todo o encanto nas tardes quentes de Verão.
Apenas existia um local de acampamento, hoje felizmente extinto, dada a sua localização no coração da reserva natural, que proporcionava aos seus poucos utilizadores um apoio com as condições mínimas, mas deliciosamente naturais: o banho fazia-se no rio, nas piscinas naturais; logo a seguir o rio Homem bifurcava, dando lugar a dois braços nos quais de um lado se lavava a roupa e noutro a loiça, havendo uma ponte em madeira a unir as duas margens. O frigorífico era colectivo – uma gruta nuns rochedos fazia refrescar e conservar o que lá deixávamos sem receio dos “amigos do alheio”. O respeito mútuo era uma pedra basilar e, também, o respeito pela Natureza, que um guarda florestal, autêntico eremita que vivia numa casa de pedra a algumas dezenas de metros, não precisava de fazer respeitar.
O rio de águas completamente transparentes, formava aqui e ali, piscinas naturais e várias cascatas que faziam a delícia dos corpos que nelas se banhavam.
Era fácil encontrar um lugar mais recatado. Subindo o rio, mesmo pelo meio do leito, aproveitando os massiços de pedra granítica que sobressaíam das águas, pudémos constatar que alguns dos nossos companheiros de “paraíso” se despiam para melhor aproveitarem a exuberância da Natureza.
Influenciados pela sua postura, que, aliás, em casa já usávamos, não hesitámos na nossa integração plena com uma Natureza esmagadora.
A sensação de arrebatamento e libertação foi imediata. Rejubilámos de prazer na relação integral e sensual que estabelecemos com o meio que nos envolveu e acariciou.
A partir desse momento, nada ficaria igual. A sensação de renascimento, de reencontro foi tão marcante que nunca mais nos perdemos dum caminho que ano após ano seguimos com prazer. Nesse caminho vivemos momentos gratificantes e construímos o nosso futuro. Com o Naturismo vivemos na nossa casa, nele criámos os nossos filhos que, ainda hoje, partilham connosco, apesar dos seus 18 e 13 anos respectivamente, sem hesitações ou dúvidas como temos ouvido alguns pais lamentar.
Tínhamos, quando começámos, 22 e 18 anos. Mantemos viva essa memória e vivemos sempre, desde então, com a felicidade de podermos partilhar com liberdade o nosso corpo por inteiro, sem partes proibidas, sem “pecado”, sem obcessões. Só a felicidade e o bem estar nos invadem sempre que podemos estar à vontade. Passados estes anos todos, estamos cada vez mais seguros de nós e da opção que fizémos. Valeu a pena e continuará a valer, viver momentos de maior recato com a natureza e momentos de são convívio com tantos e tantos amigos que conhecemos no Naturismo.
Autenticamente. Integralmente. Naturalmente Nus.
Originalmente publicado no "O Natural" Nº 19