O carácter essencial do Naturismo no seio da
sociedade e do seu futuro
Muito se tem falado e escrito no Movimento
Naturista Internacional sobre o acesso aos espaços naturistas associativos e/ou
comerciais por parte de pessoas individuais atendendo à manutenção da
característica familiar do movimento e
da preservação e ampliação da sua credibilidade junto da opinião pública.
Esta matéria tem sido alvo de alguma polémica e tem
constituído em várias revistas da especialidade um pólo privilegiado de
discussão.
Pessoalmente entendo que o naturismo tem e deverá
manter na sua essência uma base familiar. O sentido naturista e a sua forma de
estar começa necessariamente no seio da família, primordial e primeiro núcleo
colectivo da nossa vivência em sociedade, parecendo desprovido de sentido viver
“textilizado” na sua casa e assumir apenas a nudez na praia.
Esta questão tem motivado reflecções diversas e
diferentes abordagens, preocupando as entidades responsáveis pelo movimento
naturista associativo na Europa que vem limitando o acesso de pessoas
individuais sobretudo nos espaços naturistas mais alargados e com carácter de
lazer, tendo em vista a preservação desses espaços da possível intromissão de
exibicionistas, voyeurosexistas e até pedófilos.
Este controlo deve ser entendido positivamente para
segurança dos utilizadores e estabilidade desses espaços.
Naturalmente que haverá sempre lugar para pessoas
individuais livres de compromissos familiares ou não.
Os clubes – pela sua dimensão, pela (em princípio)
proximidade residencial dos membros que os integram – poderão constituir um
“filtro” à passagem de cartas naturistas a pessoas cujos hábitos e carácter
possam colidir com os princípios que norteiam o movimento.
A Europa atravessa um conturbado período
traumatizante pelos casos de pedofilia vindos a público, numa sociedade cada
vez mais varrida de valores humanos, mantendo e multiplicando até, toda uma
panóplia de exploração da imagem do nu corporal para todos os fins menos o da
sua dignificação e perpetuando, por outro lado, uma cultura redutora e
castradora do corpo humano. Estas são duas faces aparentemente contraditórias
de uma mesma moeda.
O Movimento Naturista, pela sua filosofia, pelo seu
carácter, pela sua prática, pode e deve ser um bastião de um novo humanismo,
juntando aos seus valores inerentes e tradicionais o sentido da preservação
global da Natureza, assumida também na dignidade do Homem e da Mulher nus, tal
como foram criados, e da sua sã sexualidade.
Só assim, em meu entender, se eliminarão os
desequilíbrios internos no Homem, reconduzindo-o também no plano externo à sua
reconciliação com a Natureza, única forma de lhe proporcionar o bem-estar, um
desenvolvimento sustentado e a qualidade de vida que lhe permita viver com
felicidade e harmonia.
Esse caminho, essa educação, começa em cada um de
nós e social e colectivamente, no núcleo fundamental que é a família. “Casa de
pais – escola de filhos”, é um velho ditado polular que também entre naturistas
faz especial sentido.
Manter e alargar o carácter familiar do naturismo
é, por isso, mais do que um objectivo, é um imperativo para todos os naturistas
empenhados.
Originalmente
publicado no “O Natural” Nº 3 no Outono de 1999
Com esta publicação dá-mos inicio à publicação no blog de alguns artigos de opinião publicados ao longo dos anos pelo Clube Naturista do Centro, na sua publicação "O Natural".
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