Ibiza - Calla Compte |
A minha 1ª
vez...
Pois…pois é! Também a mim! Também a mim me
apetecia lá estar... mas não pode ser. Tem de ficar para outra altura. Até
porque posso dizer-vos que a fotografia não está favorecida. É muito melhor do
que parece! Mas foi o melhor que se arranjou do meu album de fotos do meu
primeiro ano naturista.
Só
num sitio assim como Calla Compte, em Ibiza, é que me poderia apetecer fazer
algo do género como tirar a roupa e deixar-me estar pura e simplesmente ao sol
deitada na areia a sentir cada partezinha do meu corpo (que até tem bastante
superficie!), da minha pele, na areia quente.
Porque é que eu digo que só num sitio assim?????
Acham que uma mulher de vinte e tal anos
educada no seio de uma típica familia portuguesa, de cultura tradicional, se
separaria do seu fato-de-banho em qualquer sitio, com qualquer companhia? NEM
PENSAR!!!!! Que horror, que sem vergonha! Que diriam as outras pessoas quando
soubessem? E os amigos, os familiares?
Que criticas me fariam?
Mas...Ibiza, ambiente informal, sem horas nem
regras, ninguém me conhece, as únicas pessoas que estão comigo são: o meu
marido e as minhas duas melhores amigas (incapazes de me recriminar neste tipo
de coisas). O meu marido assim que chega à praia despe-se! Aliás, já tinha
avisado que o iria fazer! Das outras duas, uma faz desde sempre topless e daí
ao nudismo é um passo muito pequeno e dado sem qualquer problema. A outra segue
uma linha muito parecida com a minha: uma educação tradicional em que os seios
e a púbis não são para mostrar senão à mãe, ao marido e ao ginecologista!
Que
fazer? Nada! O primeiro dia passado na praia de Calla Compte foi de
fato-de-banho a ver passar gente com um ar super saudavel, uns vestidos outros
despidos uma vez que esta praia é mista, mas observando principalmente aqueles
que têm alguma coisa diferente de mim (os despidos) e vendo que realmente todos
os pre-conceitos caem quando se tira a roupa.
Depois de uma boa farra na noite ibissenca, de uma
chegada tardia á praia no dia seguinte e de termos perdido uma das
participantes nesta nossa gita (a mais tradicionalista optou por ficar no
hotel), e chegados à praia decidi baixar o fato-de-banho até à cintura fazendo
assim uma opção pelo top-less.
Após os primeiros minutos de choque térmico num
peito que nunca tinha sentido os raios de sol baterem directamente na pele, a
sensação foi fantástica. Indescritivel. Não há forma de dizer ou escrever
aquilo que se sente. Mas é bom, muito bom!
Mas imaginem a figura: fato-de-banho visivelmente
enrolado em forma de chouriço em volta da cintura que já de si não é muito
fina...é claro que muitas das “estranjas” na praia, as despidas e as vestidas,
olhavam de soslaio para verem se conseguiam entender como é que alguém poderia andar
assim tão desconfortável na praia. Efectivamente tinham razão! Era muito desconfortável. Mas assim fiquei, a guardar os meus “tesouros” até ao fim do
dia...ou quase.
Fim de tarde, um pôr-de-sol fantástico mesmo em
frente á praia e sobre o mar, os poucos corpos que estão na areia estão em
estado de semi-sonolência e por isso quase em silencio, o mar calmo e quente.
Não dá mais para aguentar! Dispo de uma só vez o
adereço que me tem acompanhado na praia e na piscina desde os meus 5 ou 6 anos de idade e calmamente entro na
água limpa e azul do mediterrâneo que me recebe nua e me completa.
Podem achar que a imagem é demasiado poética mas
foi realmente o que senti durante os outros 5 dias que restaram da semana em
que fazia questão de tentar sentir sempre o mesmo tipo de sensações de partilha
com os outros, com a natureza, com o mundo.
O nosso retorno a casa é que foi mais estranho. Eu
e o meu marido tinhamos alguma dificuldade em sequer pensar em voltar às praias
que habitualmente frequentávamos A. I. (antes de Ibiza) só de pensar no
fato-de-banho e no calção.
Começámos assim uma busca incessante a praias
naturistas, sites informativos, tudo e mais alguma coisa. Um belo dia
encontrámos informações sobre a inauguração do horário naturista da Piscina da
Penha de França e nem dava para acreditar! Um sitio onde, mesmo de Inverno,
poderiamos continuar a sentir a vontade e o regozijo da partilha.
Fomos! Mesmo sem conhecer ninguém! Arriscámos!
Adorámos! Ficámos! E cá andamos! Somos naturistas por convicção (ou pelo menos
achamos que somos) e tentamos partilhar esta nossa forma de estar na vida com
todos os que nos rodeiam e de quem gostamos.
Mesmo quando parece que as pessoas não compreendem
ou recriminam. Lembram-se da familia tradicionalista que me educou? Pois...só a
minha mãe é que sabe e fala comigo sobre isso. O meu pai, nem pensar que alguma
vez discutiria a minha nudez em público, não porque a entenda, mas sim
porque a recrimina completamente. Mas há
coisas que temos de saber respeitar...ele a minha opção e eu o silencio dele.
Nota da
Redação:
Iniciamos neste número de “O NATURAL” uma nova
rubrica dedicada aos testemunhos dos nossos associados, relacionados com a
“história” que envolveu cada uma das experiências que, certamente diferentes,
cada um de nós acabou por viver na altura em que decidiu dar o “passo em
frente” no derrube dos tabús, dos complexos, e no caminho da liberdade e
igualdade tão bem traduzida na nudez do corpo humano.
Desafiamos, assim, os sócios a enviarem-nos
os testemunhos, sem inibições nem
complexos, assumindo a nossa filosofia e estilo de vida.
Artigo publicado originalmente na Revista do CNC:
"O Natural" Nº 17 na Primavera de 2003
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